JUSSIÊR FERREIRA: A Cor do Preconceito no Brasil

14/11/2014 11:10

O Brasil desde o seu “descobrimento”, historicamente foi marcado pela desigualdade social, concentração de renda e opressão das classes menos favorecidas. Durante o período do Brasil colônia a opressão e a exploração incidiram, sobretudo, na mão de obra negra escravizada institucionalizada na terra do pau Brasil.

Os negros eram capturados na África e trazidos para o Brasil transformados em escravos. O lema era: “pão, pano e pau”. Ou seja, o destino que se reservava para o africano trazido para o Brasil e escravizado era alimentação mínima necessária para continuar de pé e produzir as riquezas que a elite dominante necessitava, o mínimo de roupa para cobrir o corpo, trabalho e castigo. Tratados como bestas, mera mercadoria.No Brasil Império a condição de exploração do negro pouco se alterara até o advento da abolição da escravatura.

Durante o período em que se segue o processo da abolição da escravatura no Brasil, houve uma política voltada, intencionalmente, para importação de mão de obra branca de origem europeia, para substituir a mão de obra escrava negra, até então existente, com o claro propósito de embranquecer a sociedade brasileira. Esta era a ideia deconstrução de país que se queria aqui formar. Um país de brancos. Portanto, nos moldes das sociedades europeias.

Não é por acaso que, sobretudo, na região sul do país, onde se já se desenvolvia um incipiente parque industrial, a mão de obra para aqui trazida da Europa, fora de origem germânica. Africanos, asiáticos e seus descendentes foram impedidos de entrar no país, neste período. Notadamente tentou-se formar uma população eminentemente branca em detrimento da população negra aqui já existente

Ao mesmo tempo em que se pretendia criar uma nova matiz, cor de sociedade, aqueles que outrora, foram os primeirosa dar os passos iniciais para a construção de uma possível nação, os negros, agora libertos, foram esquecidos colocados à margem deste novo processo. Não foram inseridos no processo produtivo e relegados à própria sorte, sorte que nunca tiveram.

Hoje a população brasileira é constituída por cerca de 52% de negros, ou afro-descentes, para os que assim se intitulam. E é exatamente esta população que constitui a sociedade brasileira atual. Porém, grande parte desta esta à margem do processo produtivo e do acesso aos bens materiais e culturais que esta sociedade produz. Da mesma forma em que se tentou negar, esconder e até inferiorizar as culturas, crenças, costumes e tradições desta etnia.

A dívida histórica para com este povo, com esta população é enorme e só poderá ser paga com o combate ao racismo, a discriminação socioculturala partir da criação de políticas públicas efetivas e setorizadas na saúde, educação, no acesso a moradia e a inserção no mercado de trabalho.Sabe-se da existência de tais políticas, porém, elas precisam de eficácia para que propiciem que esta população possa ser inserira de forma específica nos diferentes contextos da realidade brasileira.

____________________

*Licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), Professor da Rede Estadual de Ensino, Especialista em Didática e Metodologia do Ensino Superior pela Faculdade São Luís de França (FSLF), Especialista em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça / GPP-GeR pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).